Série I Bates Motel

Lucas Hoffmann
21 de ago. de 2019
3 min de leitura

Atualizado: 8 de out. de 2019

Antes de tudo, você precisa entender que a série Bates Motel não é um remake do clássico Psicose de 1960, dirigido por Alfred Hitchcock. Apresentando um roteiro criativo ao longo de suas cinco temporadas, interpretações impecáveis dentro de uma atmosfera perturbadora e hipnotizante e personagens com personalidades fortes, Bates Motel traz em sua narrativa um prólogo contemporâneo da construção da psicopatia de Norman Bates.

"O cuidado e sutiliza em mostrar as transformações de Norma e Norman beira a nível de perfeição"

Desenvolvida por Carlton Cuse, Kerry Ehrin e Anthony Cipriano e produzida pela Universal Television, a história da série é ambientada na cidade costeira chamada White Pine Bay, tem como seu pano de fundo um estilo retrô que remete à época do filme. Então, de forma alguma o fato dela ser retratada nos tempos atuais atrapalha no entendimento de sua narrativa. Bates Motel apresenta uma grande complexidade psicológica em sua história, mas que a torna primorosa e evolvente.

A montanha russa que são os sentimentos de Norma Bates faz com que quem assista a série ora tenha pena, ora tenha muita raiva dessa personagem tão emocionalmente complexa interpretada por Vera Farmiga. No passado, Norma foi abusada sexualmente pelo próprio pai e encontrou conforto no irmão mais velho, Caleb (Kenny Johnson). Porém, o que era pra ser uma fuga emocional, se transformou em um relacionamento incestuoso e agressivo. Dessa relação nasceu Dylan (Max Thieriot), que sofre o desamparo da mãe que não consegue lidar com sentimentos tão conflitantes. O motivo se deve pela culpa que Norma sente, por razões que nem mesmo ela entende, em nutrir sentimentos pelo irmão. O que nos remete a questão da Síndrome de Estocolmo, quando a vítima desenvolve afeição pelo agressor. Norma não consegue lidar com a situação e decide fugir com o segundo marido e abandona o filho. O que ela não esperava era que a história fosse se repetir. Tal como seu pai, ele se revela violento e, como seu irmão, passa a violentá-la. Desse casamento abusivo nasce Norman (Freddie Highmore), o refúgio emocional de Norma.

O excesso de zelo, em momentos até exagerado, da mãe em privar o filho de ter uma vida normal é angustiante, mas que no decorrer das temporadas você começa a compreender isso e de que Norman sempre teve o instinto assassino e só bastava ser despertado. A culpa da mãe não se faz ausente. Tentar encobrir os crimes cometidos pelo filho faz da Norma tão culpada quanto Norman. Outro ponto importante que a série traz é a questão de incesto envolvendo mãe e filho. É visível logo nos primeiros episódios os olhares curiosos de Norman vislumbrando a mãe trocando de roupa no quarto. Os pensamentos de desejo e proibição tomam conta do personagem.

Tais camadas desenvolvidas em personagens tão psicologicamente fragilizados se deve as interpretações excepcionais de Farmiga e Highmore. É quase impossível você conseguir desviar a atenção quando os dois estão juntos em cena. O cuidado e sutiliza em mostrar as transformações de Norma e Norman, respectivamente, beira a nível de perfeição. As tramas paralelas como tráfico de narcóticos e a questão delicada em mostrar o dia a dia de pessoas que sofrem de fibrose cística, retratado através da personagem Emma (Olivia Cooke), contribuíram para intensificar a história.

Uma série bem sucedida termina exatamente no momento certo. Um feito quase inédito. Infelizmente poucos seriados usam do "menos é mais" a seu favor e pecam pelo excesso na construção de roteiros vagos sem consistência. Felizmente, apesar do final pouco imprevisível, Bates Motel se tornou uma exceção.